Ziv Gallery
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ZIV Gallery promove roda de conversa sobre mulheres na Amazônia

ZIV Gallery promove roda de conversa sobre mulheres na Amazônia

Foto: Sitah

Amazônia em destaque

Os desafios da mulher na Amazônia são tema da Roda de Conversa que a ZIV Gallery realiza nesta sexta-feira (11), às 19 horas, como parte da programação da Expo ZIV Mulheres, em cartaz até 31 de março. Participam as artistas Chermie Ferreira e Sitah.

Convidadas
.Chermie Ferreira – grafiteira, artista plástica e digital. Natural de Manaus, a artista é do povo Kokama e ribeirinha.

. Sitah – artista visual, fotógrafa com especialização em Antropologia Visual. Dedica seu trabalho para amplificar a voz da natureza e dos povos originários. Há mais de 10 anos convive e pesquisa comunidades ribeirinhas e indígenas na Amazônia.

Sitah

O debate sobre mulheres e Amazônia será realizado na ZIV Gallery do Beco do Batman, à rua Gonçalo Afonso, 119, na Vila Madalena.

Expo ZIV Mulheres

Inaugurada no dia 08 de março, a Expo ZIV Mulheres tem mostra de arte de mulheres, debates e show.

Os eventos estão divididos entre as unidades da galeria no Beco do Batman e no Istituto Europeo di Design (IED) São Paulo, sediado em Higienópolis.

A mostra de arte com obras de artistas brasileiras e fotógrafas afegãs ocorre na ZIV – Beco.

“O objetivo da ação é dar visibilidade e espaço às mulheres na arte”, explica Marcela Rodrigues, gerente da ZIV e artista plástica e digital.

Para o galerista Helder Kanamaru, da ZIV Gallery, “é urgente aumentar a representatividade feminina nas artes para corrigir toda uma história de desigualdades, uma infeliz realidade em todas as áreas”.

@ruido.das.aguas @sitah_photoart

Chermie Ferreira, artista plástica

Chermie Ferreira

Programação

08/março – LANÇAMENTO EXPOSIÇÃO MULHERES
11h – Instalação asas em papel | Artista: Aninha Haddad – IED
19h – Coquetel de abertura – ZIV Beco do Batman

11/março – RODA DE CONVERSA COM ARTISTAS SOBRE AMAZÔNIA
19 horas – As artistas Chermie Ferreira e a fotógrafa Sitah, batem um papo sobre os desafios das mulheres na Amazônia – ZIV Beco do Batman

12/março – SHOW do DUO STEVANS
17h – ZIV Beco do Batman

22/março – RODA DE CONVERSA SOBRE EVOLUÇÃO DOS DIREITOS DAS MULHERES
11h – Convidada: Nathalie Malveiro
Promotora de Justiça do enfrentamento da violência doméstica do Ministério Público de São Paulo – IED

24/março – RODA DE CONVERSA SOBRE MULHERES REFUGIADAS
11h – Convidada: Luciana Capobianco
Fundadora da ONG Estou Refugiado promove uma roda de conversa com 4 jovens afegãs, fotógrafas, que chegaram no Brasil em novembro de 2021, fugidas do regime do Talibã – IED

26/março – ART BATTLE – MULHERES

29/março – RODA DE CONVERSA SOBRE ASSÉDIO SEXUAL
19h – Convidada: Ana Addobbati, co-fundadora da ONG Women Friendly Brasil – ZIV Beco do Batman

Artistas participantes
Aninha Haddad, Brunna Mancuso, Camila Véras, Chermie Ferreira, Fe Yamamoto, Josiani Durigan, Katryn Beaty, Marcela Rodrigues, Rabiscais, Natalia Prince, Paula Calderón, Silvia Marcon, Sitah, Tami.

Fotógrafas afegãs da ONG ESTOU REFUGIADO
Mahbuba Komail, Masouma Yavary, Shikofa Rasuli, Zahra Karimi

Apoio

Istituto Europeo di Design – IED SP
Johnnie Walker
MY ZYK

Parceria

Associação das Mulheres Empreendedoras do Beco do Batman – AMEBB
Unidos da Vila Madalena
Women Friendly
Estou Refugiado

Expo ZIV Mulheres começa hoje e vai até 31 de março

Expo ZIV Mulheres começa hoje e vai até 31 de março

Foto: Sitah

A ZIV Gallery promove de 08 até 31 de março a Expo ZIV Mulheres com atividades no Beco do Batman e no Istituto Europeo di Design (IED) São Paulo, sediado em Higienópolis.

A mostra de arte com obras de artistas brasileiras e fotógrafas afegãs ocorre na ZIV Gallery, do Beco do Batman, com abertura da exposição no dia 8, às 19 horas.

Ao longo do mês de março, a ZIV realiza também uma RODA DE CONVERSAS com debates sobre temas como violência contra a mulher, gênero e personalidade e desafios enfrentados pelas mulheres.

“O objetivo da ação é dar visibilidade e espaço às mulheres na arte”, explica Marcela Rodrigues, gerente da ZIV e artista plástica e digital.

 

Para o galerista Helder Kanamaru, da ZIV Gallery, “é urgente aumentar a representatividade feminina nas artes para corrigir toda uma história de desigualdade, uma infeliz realidade em todas as áreas”.

Representatividade das mulheres na arte

foto: Mahbuba Komail, fotógrafa afegã refugiada no Brasil

foto: Mahbuba Komail, fotógrafa afegã refugiada no Brasil

As mulheres são 51,8% da população, mas não ocupam espaço no mundo do trabalho na mesma proporção. O mesmo acontece na arte. As mulheres artistas têm pouco espaço nas galerias, muros e universidades, por exemplo.

Por falta de oportunidades, as mulheres deixam o trabalho artístico de lado ou em segundo, terceiro planos para garantir o seu sustento e da família.

“Mudar essa realidade é necessário e urgente. Quantas artistas de primeira grandeza foram perdidas por falta de oportunidade? A ZIV quer ser parte da mudança!”, aponta Kanamaru.

Por isso, a ZIV Gallery está promovendo, no mês de março, a EXPO ZIV MULHERES, um momento de debater a realidade duramente enfrentada pelas mulheres e um espaço para expor a arte delas.

O objetivo é valorizar, dar mais espaço e visibilidade ao trabalho realizado por artistas mulheres, para que elas possam ter voz, sprays, tintas, telas, muros e muito mais em sua jornada na arte e na vida.

 

Programação

. 08/março – LANÇAMENTO EXPOSIÇÃO MULHERES

11h – Instalação asas em papel | Artista: Aninha Haddad – IED

19h – Coquetel de abertura – ZIV Beco do Batman

. 11/março – RODA DE CONVERSA COM ARTISTAS SOBRE AMAZÔNIA

As artistas Chermie Ferreira e a fotógrafa Sitah, batem um papo sobre os desafios das mulheres na Amazônia – ZIV Beco do Batman

. 12/março – SHOW do DUO STEVANS

17h – ZIV Beco do Batman

. 22/março – RODA DE CONVERSA SOBRE EVOLUÇÃO DOS DIREITOS DAS MULHERES

11h – Convidada: Nathalie Malveiro

Promotora de Justiça do enfrentamento da violência doméstica do Ministério Público de São Paulo – IED

. 24/março – RODA DE CONVERSA SOBRE MULHERES REFUGIADAS

11h – Convidada: Luciana Capobianco

Fundadora da ONG Estou Refugiado promove uma roda de conversa com 4 jovens afegãs, fotógrafas, que chegaram no Brasil em novembro de 2021, fugidas do regime do Talibã – IED

. 26/março – ART BATTLE – MULHERES

. 29/março – RODA DE CONVERSA SOBRE ASSÉDIO SEXUAL

19h – Convidada: Ana Addobbati, co-fundadora da ONG Women Friendly Brasil – ZIV Beco do Batman

foto: Masouma Yavary, fotógrafa afegã refugiada no Brasil

 

Artistas participantes

Aninha Haddad, Brunna Mancuso, Camila Véras, Chermie Ferreira, Fe Yamamoto, Josiani Durigan, Katryn Beaty, Marcela Rodrigues, Rabiscais, Natalia Prince, Paula Calderón, Silvia Marcon, Sitah, Tami

Fotógrafas afegãs da ONG ESTOU REFUGIADO

Mahbuba Komail, Masouma Yavary, Shikofa Rasuli, Zahra Karimi

@aninhahaddad @brunnamancuso @camilaveras @ruido.das.aguas @feartes_y @jodurigan @katrynbeatyart @marcela.rodriguesc @paulacalderon.arte @rabiscais @sil_sil @sitah_photoart @tamilemos @nataliaprince.art

 

Apoio

Istituto Europeo di Design – IED SP

Johnnie Walker

MYZYK

 

Parceria

Associação das Mulheres Empreendedoras do Beco do Batman

Unidos da Vila Madalena

Women Friendly

Estou Refugiado

@iedsp  @johnniewalkerbrasil @amebb @womenfriendlybrasil @estourefugiado

 

Lambe-lambe traz a floresta de volta para a cidade

Foto: Sitah – Lambe-Lambe dá boas-vindas a quem prestigia a exposição

A mostra de arte exclusiva de mulheres traz logo na entrada da ZIV Gallery um lambe-lambe do trabalho da fotógrafa Sitah, chamado Silêncios.

Silêncios nasce do anseio da artista de trazer a Floresta de volta para a cidade . “Nos inspira a lembrança de que somos a Natureza”, explica Sitah. O projeto – parte de uma série de intervenções artísticas cuja essência é trazer a Floresta de volta para cidade e o estado de pertencimento com a natureza – aterrissa no muro do Beco do Batman a convite da ZIV.

A fusão fotográfica da rainha da Floresta; a árvore Samaúma, no corpo da liderança indígena Watatakalu Yawalapiti representa esse estado de pertencimento com a natureza, aponta a fotógrafa. “O corpo indígena feminino pintado de vermelho nos faz refletir que a violência e destruição da natureza se tratam de um ataque a própria vida.”

A obra esta à venda na galeria durante o período da mostra e 50% do lucro da artista é destinado à líder indígena.

Em 2020, a imagem foi projetada em empenas do centro da cidade de São Paulo. Veja aqui : https://vimeo.com/496702311

Em 2021, em uma experiência visual imersiva no Centro Cultural SP, Sitah trouxe as águas e as matas da Floresta Amazônica nos convidando a experimentar as sensações de SER, ESTAR e PERTENCER a natureza.

Sobre Sitah

“A fotografia é o meu ponto de partida para amplificar a voz dos rios, das montanhas, da floresta e dos povos originários, com o propósito de sensibilizar para um urgente resgate de reconexão com a natureza.”

Especializada em antropologia visual pela Universidade de Barcelona, foi convidada a expor seu trabalho em relevantes espaços culturais pelo Brasil, dentre eles Sesc, Unibes Cultural, Casa Firjan e em edições da Virada Sustentável.

Com a intervenção urbana Silêncios (2020), projetou, em empenas de prédios do Parque Minhocão (SP), imagens da natureza fundindo-se ao corpo feminino da líder xinguana Watatakalu Walapiti, conectando a cidade aos povos originários, que incansavelmente tentam nos acordar para o fato de que sem a floresta não há vida, destaca firmemente a artista.

Em 2019, fez parte da exposição Povos das Águas, resultado de 10 anos de pesquisa e convivência da artista com as comunidades ribeirinhas amazônicas no anseio de desvendar os mistérios dessas águas e os segredos de quem ali vive. Quem conduz essa série são as águas do Rio Negro.

Imersões são parte do trabalho da artista, que testemunhou também os tradicionais rituais de passagem femininos vivenciados na cultura do povo Kamayurá. Desse contato nasceu a exposição Mulheres do Xingu (2019), idealizada em comunhão com as indígenas, que são as guardiãs das tradições de seu povo e que, movidas por um desejo de igualdade, quebram paradigmas e se unem aos homens em defesa de seu território. O projeto segue em expansão junto às xinguanas e tem como objetivo a aliança de mais mulheres, indígenas e não indígenas.

Beco do Batman ganha novo graffiti em homenagem à cacique do povo Kokama

Beco do Batman ganha novo graffiti em homenagem à cacique do povo Kokama

A artista plástica Chermie Ferreira grafitou um dos últimos espaços livres do Beco do Batman

Chermie e a cacique Bia, no Beco do Batman

O Beco do Batman ganhou uma obra representativa da cultura indígena e amazônica, com um graffiti em homenagem à cacique Bia, líder do povo Kokama.

O mural, pintado pela artista plástica Chermie Ferreira da ZIV Gallery, fica na rua Gonçalo Afonso, a poucos metros do ponto mais central do Beco do Batman e foi finalizado na segunda-feira (12/07).

Chermie é natural de Manaus, onde começou a grafitar aos 16 anos, para incentivar as meninas das comunidades e ribeirinhas a ingressar na arte. Mais tarde, a artista descobriu suas origens Kokama e desde então dedica-se a representar, em seus trabalhos, mulheres, comunidades indígenas e ribeirinhas e trabalhadores do Norte do país.

“As cores fortes e os contornos precisos dos desenhos de Chermie trazem muito da fauna e flora amazônica, sem falar do destaque dado às mulheres e crianças em suas obras”, detalha o galerista Helder Kanamaru, da ZIV Gallery.

Diversas obras da artista são inspiradas no trabalho de Rafayane Carla, uma jovem goiana, radicada em São Paulo, dedicada a fotografar exclusivamente a cultura indígena.

“A cada ano, minhas raízes indígenas falam mais alto. E nada mais significativo do que pintar no ícone do graffiti de São Paulo, uma cacique com seu filho no colo em meio a paisagem amazônica”, reflete Chermie.

 

A arte de Chermie Ferreira

Chermie Ferreira ou Wira Tini, nome indígena da artista cujo significado em Kokama é Pássaro Branco, é uma artista natural de Manaus, de 33 anos, radicada há 2 anos na capital paulista.

No graffiti desde a adolescência, ela luta por representatividade feminina na arte urbana. Entre os inúmeros eventos sob sua coordenação, está o Festival Yapai Waina, “levanta mulher”, em Kokama: o 1º Festival Internacional de Graffiti com foco nas artistas plásticas do Amazonas, realizado este ano, de 13 a 15 de maio, em Presidente Figueiredo (AM).

A artista também criou a plataforma de divulgação digital de trabalhos de mulheres, o “Graffiti Queens“; a primeira revista de graffiti feminina em meio físico e organizou o “1º Festival Internacional de Graffiti Feminino”, em São Paulo.

Em 2020, ao ver sua cidade gravemente atingida pela epidemia de Covid-19, ela retornou a Manaus para acompanhar de perto a saúde da família. Ao conviver mais profundamente com os familiares ribeirinhos descobriu histórias ancestrais repletas de mulheres fortes e corajosas e passou a retratá-las em suas obras.

Chermie começou no graffiti e hoje atua em diversas outras plataformas, criando suas próprias tintas e renovando-se continuamente.

Mãe de duas meninas, filha de ribeirinhos, com ascendência negra e indígena, Chermie retrata a vida, as dificuldades e as alegrias da população no Norte do Brasil.

Nova galeria de arte urbana

Inaugurada em fevereiro deste ano, a ZIV Gallery é uma galeria de arte urbana, localizada no Beco do Batman.

Com um espaço inovador, a ZIV traz exposições de obras de arte de diferentes linguagens artísticas de mais de 30 criadores e um café/bar panorâmico. Localizado no piso superior, o café proporciona uma visão privilegiada da arte do Beco do Batman e tem no cardápio pratos saudáveis, elaborados para conectar a melhor gastronomia a um ambiente artístico e descolado.

Do hebraico “luz”, a ZIV Gallery tem como propósito criar oportunidades e gerar transformações com arte, revelando talentos e promovendo a inclusão e profissionalização de artistas.

Com murais internos e externos, a arquitetura do local conecta a galeria à dinâmica artística e cultural do Beco do Batman. Além de um painel de 40 metros, pintado por 16 artistas, visto desde a rua e responsável por integrar internamente todas as áreas da galeria.

A ZIV Gallery fica na rua Gonçalo Afonso, 119 e está aberta de terça a domingo. Para saber mais, acompanhe o  instagram .

 

Chermie Ferreira e o desafio de retratar o Norte do Brasil

Chermie Ferreira e o desafio de retratar o Norte do Brasil

Chermie Ferreira, artista plástica

Filha de Suane, neta de Rita e Raimunda, bisneta de Maria, a artista plástica, Chermie Ferreira, se fez na vida e na arte, inspirada pela coragem e determinação das mulheres de sua família.

Em entrevista à ZIV Gallery, Chermie conta as intrincadas histórias de suas ancestrais e como elas formaram um de seus traços pessoais e artísticos mais fortes: a defesa das mulheres e a luta pelo empoderamento feminino. Sem esquecer de valorizar as culturas indígena e ribeirinha da região Norte do país.

Por esses objetivos, a menina destemida, natural de Manaus (AM), foi para as ruas grafitar, mudou de estado, viajou o Brasil, denunciou um ex-companheiro violento, ministrou palestras e oficinas reunindo graffiti, autoestima feminina e políticas públicas.

Radicada em São Paulo, desde 2018, na cidade, Chermie Ferreira se encontrou e se firmou como artista multitalentosa. De seus muitos papéis, dois se destacam e se apoiam: o de artista e o de mãe.

Com a arte, espera ajudar a construir um mundo melhor para as filhas de Sara e Wira Tini, tal como suas bisavós, avós e mãe fizeram pelas gerações seguintes.

 

Ancestralidade refletida na arte

Chermie Ferreira, artista plástica

Chermie é descendente da tribo Kokama e leva sua ancestralidade para a arte

Para entender a arte e a história de Chermie, é importante mergulhar em sua ancestralidade marcada por migrações e jornadas desafiadoras.

A bisavó de Chermie, Maria José, natural da Bahia, casou-se no Acre com o índio Kokama José, do Amazonas. A filha deles, a avó Rita, se apaixonou pelo avô Sólon, mas o bisavô era contrário à união, porque temia pela filha, negra, casada com um homem branco, já imaginando o racismo pelo qual passaria ao longo da vida. “Meu bisavô era um homem simples em Xapuri, mas já conhecia bem o racismo porque sua esposa Maria José, sendo negra, já enfrentava isso bem de perto”, aponta a artista.

Para casar, Rita e Sólon fugiram do Acre, passaram pelo Amazonas, pelo Pará, onde nasceu Suane – mãe de Chermie – e seguiram para o Maranhão. Lá, o avô faleceu, deixando a avó com quatro filhos de nove, sete, quatro anos e um bebê de colo.

Depois do enterro, Rita, sem rumo, não voltou para casa, pegou os filhos e dali mesmo partiu para Belém, abandonando o pouco conquistado para trás. “Ela ficou sem chão”, revela a artista. Da capital do Pará, a família seguiu para Manaus, onde uma tia avó morava.

Rita conseguiu um emprego de cobradora de ônibus. “Ela saía às quatro da manhã para trabalhar”, conta a neta. A mãe por outro lado, uma criança, andava quilômetros, atravessando igarapé (rio estreito) e pegando ônibus até chegar à sala de aula. Depois, ainda na infância, conseguiu um emprego de doméstica. O tio de nove anos foi trabalhar como padeiro e em casa ficavam as crianças de seis e dois anos.

Com toda dificuldade, a avó nunca abandonou os filhos e ainda cuidou de outras crianças.

Dessa narrativa, feita pela mãe, Suane, em um café da manhã, Chermie teve insights para uma linha de trabalho artístico sobre maternidade. “Ser mãe cria uma potência nas mulheres e esse se tornou um tema importante para minha pintura, meus bordados, minha arte”.

Chermie Ferreira, artista plástica

Histórias familiares estão presentes no trabalho da artista manauara

Também de uma conversa à mesa, enquanto a família comia feijão com farinha, Suane relembrou um dos muitos dias passados na estrada, aos seis anos de idade, depois da morte do pai, no trajeto do Maranhão para o Amazonas. Sem dinheiro e sem comida, Rita – a avó – pediu a um homem um prato de comida, mas ele só tinha feijão com farinha para si e para oferecer aos viajantes. Grata pela doação, a avó fez bolinhos e deu aos filhos para aplacar a fome. A história mais uma vez acendeu a necessidade de retratar a vida da família, a coragem das mulheres e a vida no Norte do país.

Assim, com causos hiper-reais da vida familiar, ou pesquisando a realidade de sua terra natal, a artista vai criando novos caminhos para sua arte.

 

Chermie Ferreira pelas mulheres

As experiências familiares criaram outro traço importante da vida de Chermie: a defesa inabalável das mulheres.

A mãe da artista casou-se com um homem violento, seu pai, contrário à esposa estudar, mas ela nunca abaixou a cabeça, mesmo tendo de sair às seis horas e voltar meia-noite para trabalhar e se dedicar aos estudos.

Durante 12 anos, a mãe suportou os abusos físicos e psicológicos do ex-marido, cujo comportamento colocava em risco os próprios filhos, como quando ele ameaçou jogar o carro com toda a família, embaixo de um caminhão.

“Quando eu tinha nove anos, minha mãe fugiu de casa, cansada de apanhar. Ficamos um mês só com meu pai. As coisas só mudaram quando ele foi ao trabalho dela jogar as roupas na porta e minha mãe finalmente contou aos colegas a realidade de seu casamento. Como havia uma delegacia ao lado, ele terminou preso por agressão”. A mãe se separou, cursou Mestrado em Relações Públicas, cuidou e encaminhou os filhos, sem parar de trabalhar.

Dessa experiência, Chermie tirou a decisão de nunca deixar um homem ser violento com ela. Denunciou um ex-companheiro agressivo e também não aceitou isso de colegas artistas ou amigos em relação a suas companheiras.

“Nasci feminista, porque vim dessas mulheres e todo o resto complementa essa necessidade de ajudá-las a viver melhor”, diz. “Não preciso ler livros acadêmicos sobre feminismo, nem ter Frida Kahlo como referência porque elas vieram da minha vida, do meu convívio familiar”.

 

Arte para valorizar a região Norte

Chermie Ferreira

Chermie Ferreira cria eventos para incentivar mulheres na arte

O caminho da arte na vida de Chermie, começou pelo mangá, inspirado pelos desenhos animados Dragon Ball Z e Cavaleiros do Zodíaco, aos nove anos. Aos 16, foi pintar seu primeiro muro com amigos para incentivar as mulheres a disputarem os locais mais importantes de Manaus. “Havia muitas mulheres no graffiti, mas elas não disputavam o “hall off fame” da cidade – localizado em duas ruas de grande movimento”, aponta.

No início, fazia bonequinhas à la Nina Pandolfo, depois se especializou em letras 3D, partindo para um estilo mais novaiorquino, inédito na região.

Foi ganhando as ruas e criando eventos para incentivar meninas e mulheres na arte. “Ainda é muito comum as meninas deixarem o graffiti por gravidez na adolescência, então acaba havendo renovação forçada, porque as mulheres optam pelos filhos. Eu prossegui por ser teimosa, filha de Suane, uma educadora de filhas guerreiras”, ressalta. A mãe além de incentivar sua arte, cuidar da filha mais velha de Chermie, também fez questão de comprar a passagem da primeira viagem para a artista grafitar.

Depois de quatro anos no graffiti, em 2008, ela organizou o “I Festival de Graffiti Feminino da região Norte”. Em 2016, criou a plataforma de divulgação digital de trabalhos de mulheres, o “Graffiti Queens“. Dois anos mais tarde, veio o “1º Festival Internacional de Graffiti Feminino”, realizado em São Paulo. A artista também criou a primeira revista de graffiti feminina em meio físico.

No momento, Chermie está organizando o festival Yapai Waina, “levanta mulher”, em Kokama. É o 1º Festival Internacional de Graffiti com foco nas artistas plásticas do Amazonas e será realizado de 13 a 15 de maio, em Presidente Figueiredo (AM).

 

Chermie Ferreira se descobre artista em São Paulo

Chermie Ferreira, artista plástica

Do graffiti de Manaus para a cena paulistana

Com toda essa potência inabalável no graffiti, no início, Chermie queria mesmo era ser DJ. Chegou a se matricular no curso, em São Paulo, entretanto, foi para a Bahia trabalhar com tatuagem, Direitos Humanos, cursos e palestras para mulheres, além de continuar grafitando por onde ia.

Da Bahia, por motivos pessoais, desembarcou em São Paulo. “Me encontrei nessa cidade. São Paulo não para e eu, também não. Vivo a mil por hora com muitos projetos”, comenta.

Na capital paulista, ela finalmente se descobriu artista. “Não me via como artista até um ano atrás”.

 

Wira Tini volta para casa

Preocupada com a família em Manaus, cidade fortemente atingida pela Covid-19, especialmente com a mãe, do grupo de risco, Chermie viajou em 2020 para ficar perto da família, onde está se protegendo e ajudando a cuidar de todos.

Obra de Chermie Ferreira

Wira Tini, pássaro branco em Kokama, é o nome indígena de Chermie

Madura, agora, além de se sentir inteiramente artista, a pandemia trouxe novamente o convívio com a mãe e tios, histórias de família começaram a fazer sentido, passou a pintar quadros, inspirada em imagens de fotógrafos do Norte do país, com toques de impressionismo.

As lembranças da infância dentro do rio, nadando com jacarés, de viver em casas flutuantes, de andar de barco com o pai e o tio, ambos militares, aflorou ainda mais a identidade indígena e ribeirinha da artista manauara, reconhecida em São Paulo e contratada por uma galeria inovadora no propósito e na visão artística.

“Uma mulher, artista, mãe, do Norte, conseguir reconhecimento em São Paulo e estar em uma galeria moderna, nova, conectada com crenças de valorização das mulheres, da natureza, dos povos indígenas, da população ribeirinha, como a ZIV Gallery, demonstra minha maturidade e acerto em lutar”, alegra-se.

Dessa nova fase, estão saindo séries de trabalhos artísticos – tanto em quadros como em bordado – sobre mulheres amazonenses de diversas profissões; mães e crianças e sobre copaíba e andiroba, folhas de cura, em geral aplicadas por mulheres, também sempre relacionadas ao processo curativo das famílias.

O bordado é um aprendizado novo e responde à necessidade de aumentar as plataformas artísticas de Chermie, já reconhecida no graffiti, na arte digital e na pintura.

Chermie, nome de um peixe amazônico, também é Sara – de nascimento – e mais recentemente se tornou também Wira Tini, cujo significado na tribo Kokama é pássaro branco. Como peixe, ela nada forte e vence qualquer curso d’água e como pássaro, voa longe para conhecer o mundo e honrar seu povo e sua história pessoal.

Conheça as obras de Chermie Ferreira na ZIV Gallery, a mais nova galeria de arte no Beco do Batman, cujo propósito é criar oportunidades e gerar transformações com arte!

 

Galeria de obras de Chermie Ferreira:

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Michele Micha e a realidade nua e crua do corpo humano

Michele Micha e a realidade nua e crua do corpo humano

Michele

Micha cria obras hiper-realistas

Observar o trabalho de Michele Micha é como olhar a si mesmo, por dentro. Suas obras de arte são hiper-realistas, profundas e viscerais, porque são inspiradas na realidade nua e crua da vida humana.

A opção de retratar o incrível mundo da fisiologia humana, não foi por acaso: Micha cresceu em uma casa cheia de livros de medicina, biologia, anatomia e genética, além de tubos de ensaio de diferentes tamanhos, pranchetas, réguas e instrumentos para desenho.

“Toda essa absorção ficou tão intrínseca em mim e em meus arquivos mentais, a ponto de hoje toda minha expressão ter estética anatômica, visceral, assim como notas de lugubridade e poética existencial”, explica a artista, em entrevista à ZIV Gallery.

Durante a infância e a adolescência da artista, a mãe, Elisa, trabalhou como bióloga, desenhista técnica, pesquisadora e professora de desenho técnico para Engenharia. A percepção de Micha sobre o trabalho intenso da mãe, bem como da luta para a educar sozinha marcou profundamente sua forma de ver o mundo e se esparramou pela arte.

“Amava viajar naquele universo ilustrado dos livros dela. Ver o mundo  interno dos seres vivos era fascinante e confortável. Me encantava com  as transformações anatômicas, em como as doenças se manifestavam nos órgãos  humanos, a  morte e seus ciclos, as metamorfoses de animais e plantas e criava histórias com as imagens de anomalias genéticas. Eu simplesmente adorava ver aquelas pessoas diferentes”, elenca.

Se por um lado, o mergulho nas estruturas físicas humanas veio no convívio familiar, Micha procurou por conta própria a imersão em outros tópicos da ciência e da arte, como: psicanálise, física quântica, neurociência, metafísica e  arte terapia.

 

Arte multiexperimental

Trabalho de Michele Micha

Micha utiliza materiais como tela, madeira, parede, resina, papel, lixo, cerâmica, tecidos, acrílica, óleo, spray e minerais

Embora seja formada em publicidade, a artista nunca exerceu a profissão. Trabalhou como modelo em eventos e comerciais de TV e como modelo fotográfica para publicidade para pagar as contas, financiar seus projetos artísticos e estudar arte.

Um de seus estudos mais marcantes foi participar do grupo alternativo de discussões sobre arte contemporânea, graffiti e história da arte, dirigido pelo artista e arte-educador, Walter Nomura, o mestre Tinho.

“Ali me descobri e me aceitei como artista de verdade e passei a me entender como artista profissional”. Ela continua estudando no grupo.

Dali em diante, a artista começou a participar de projetos de street art, exposições coletivas e individuais, em museus, galerias e instituições nacionais e internacionais, residências, salões de arte, bienais e obter premiações e menções honrosas.

Artista multiexperimental, Micha transborda sua visão de ser humano em diferentes expressões artísticas, como pinturas, esculturas, instalações e performances, utilizando materiais como tela, madeira, parede, resina, papel, lixo, cerâmica, tecidos, acrílica, óleo, spray, minerais, sangue, entre tantas possibilidades.

 

O coração

Coração de Micha

Coração: essencial tanto quanto o cérebro

Figura frequente na arte de Micha, a artista considera o coração um filtro da absorção de nossas percepções e experiências e um órgão de inteligência.

O primeiro a se formar no interior do útero materno, estudos recentes consideram o coração muito além de uma estação de bombeamento do corpo. Ele também é composto de neurônios da mesma natureza do sistema cerebral ou seja também é uma estação de inteligência e suas células possuem sintonia com outras células e transmitem sinais eletromagnéticos.

Quando surge na arte de Micha, não é por ser o símbolo clássico do amor e por todo o simbolismo já conhecido, mas por estar totalmente ligado a área do pensamento e por ser essencial tanto quanto o cérebro, detalha.

 

Micha: ser e questionar

Independentemente da plataforma, as construções artísticas e as pesquisas de Micha estão relacionadas aos desdobramentos do ser, busca pela pura essência, dualidade humana e feminismo. “Pesquiso muito o envolvimento psíquico com as influências e heranças culturais as quais absorvemos e estruturamos no decorrer da vida, conflitos intrapessoais, pinceladas na psique, traumas e consciência. Tudo isso se desenvolve e resulta em um trabalho conceitual, com poética feminina e atmosfera sensorial”, define.

As obras da artista têm cunho questionador, carregando um incômodo. “Apenas saímos do lugar e evoluímos quando deixamos o estado de acomodação, de conforto, onde creio ser impossível florescer, crescer”, diz.

Produção de Michele

A arte é o combustível de Michele Micha

Inspirada pelas artistas Adriana Varejão e Chiharu Shiota, a arte é seu combustível – transcendente e necessária. “Nós, artistas, carregamos grande responsabilidade pois temos o papel de desconstruir o mundo já elaborado, já lapidado, remodelar essa coisa e transformá-la em um novo lapso, pensamento.”

Ser mulher na arte vai exatamente no sentido de quebrar paradigmas, principalmente os estruturados pela patriarcado, diz. “Viver de arte é difícil no Brasil, sendo mulher e mãe isso quadriplica, mas estamos superando aos poucos essa história.”

Para Micha, a participação no painel coletivo da ZIV trouxe proximidade com os artistas da galeria e apropriação do espaço onde há muita circulação e ótima visibilidade, por estar no Beco do Batman, um lugar com ar de casa e onde as artes de muitos amigos se encontram.

Conheça as obras de Michele Micha na ZIV Gallery, galeria de arte no Beco do Batman, cujo propósito é criar oportunidades e gerar transformações com arte!

 

Galeria de obras de Michele Micha:

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Galeria de obras de Fernanda Yamamoto:

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Olá, precisa de ajuda?