A artista plástica Chermie Ferreira grafitou um dos últimos espaços livres do Beco do Batman
Chermie e a cacique Bia, no Beco do Batman
O Beco do Batman ganhou uma obra representativa da cultura indígena e amazônica, com um graffiti em homenagem à cacique Bia, líder do povo Kokama.
O mural, pintado pela artista plástica Chermie Ferreira da ZIV Gallery, fica na rua Gonçalo Afonso, a poucos metros do ponto mais central do Beco do Batman e foi finalizado na segunda-feira (12/07).
Chermie é natural de Manaus, onde começou a grafitar aos 16 anos, para incentivar as meninas das comunidades e ribeirinhas a ingressar na arte. Mais tarde, a artista descobriu suas origens Kokama e desde então dedica-se a representar, em seus trabalhos, mulheres, comunidades indígenas e ribeirinhas e trabalhadores do Norte do país.
“As cores fortes e os contornos precisos dos desenhos de Chermie trazem muito da fauna e flora amazônica, sem falar do destaque dado às mulheres e crianças em suas obras”, detalha o galerista Helder Kanamaru, da ZIV Gallery.
Diversas obras da artista são inspiradas no trabalho de Rafayane Carla, uma jovem goiana, radicada em São Paulo, dedicada a fotografar exclusivamente a cultura indígena.
“A cada ano, minhas raízes indígenas falam mais alto. E nada mais significativo do que pintar no ícone do graffiti de São Paulo, uma cacique com seu filho no colo em meio a paisagem amazônica”, reflete Chermie.
A arte de Chermie Ferreira
Chermie Ferreira ou Wira Tini, nome indígena da artista cujo significado em Kokama é Pássaro Branco, é uma artista natural de Manaus, de 33 anos, radicada há 2 anos na capital paulista.
No graffiti desde a adolescência, ela luta por representatividade feminina na arte urbana. Entre os inúmeros eventos sob sua coordenação, está o Festival Yapai Waina, “levanta mulher”, em Kokama: o 1º Festival Internacional de Graffiti com foco nas artistas plásticas do Amazonas, realizado este ano, de 13 a 15 de maio, em Presidente Figueiredo (AM).
A artista também criou a plataforma de divulgação digital de trabalhos de mulheres, o “Graffiti Queens“; a primeira revista de graffiti feminina em meio físico e organizou o “1º Festival Internacional de Graffiti Feminino”, em São Paulo.
Em 2020, ao ver sua cidade gravemente atingida pela epidemia de Covid-19, ela retornou a Manaus para acompanhar de perto a saúde da família. Ao conviver mais profundamente com os familiares ribeirinhos descobriu histórias ancestrais repletas de mulheres fortes e corajosas e passou a retratá-las em suas obras.
Chermie começou no graffiti e hoje atua em diversas outras plataformas, criando suas próprias tintas e renovando-se continuamente.
Mãe de duas meninas, filha de ribeirinhos, com ascendência negra e indígena, Chermie retrata a vida, as dificuldades e as alegrias da população no Norte do Brasil.
Nova galeria de arte urbana
Inaugurada em fevereiro deste ano, a ZIV Gallery é uma galeria de arte urbana, localizada no Beco do Batman.
Com um espaço inovador, a ZIV traz exposições de obras de arte de diferentes linguagens artísticas de mais de 30 criadores e um café/bar panorâmico. Localizado no piso superior, o café proporciona uma visão privilegiada da arte do Beco do Batman e tem no cardápio pratos saudáveis, elaborados para conectar a melhor gastronomia a um ambiente artístico e descolado.
Do hebraico “luz”, a ZIV Gallery tem como propósito criar oportunidades e gerar transformações com arte, revelando talentos e promovendo a inclusão e profissionalização de artistas.
Com murais internos e externos, a arquitetura do local conecta a galeria à dinâmica artística e cultural do Beco do Batman. Além de um painel de 40 metros, pintado por 16 artistas, visto desde a rua e responsável por integrar internamente todas as áreas da galeria.
A ZIV Gallery fica na rua Gonçalo Afonso, 119 e está aberta de terça a domingo. Para saber mais, acompanhe o instagram .
Fernanda Yamamoto faz uma arte delicada sobre empoderamento
Todos os caminhos levavam Fernanda Yamamoto ao mundo da moda: a infância desenhando e criando roupas para bonecas, sua experiência com corte e costura, o convívio com as avós – ambas costureiras da família -, a faculdade de Moda, entre tantas outras coisas.
Entretanto, a pandemia e a paixão por esportes, além da aridez do universo fashion, deram uma guinada na visão de mundo da artista. “Fiz faculdade pensando em ser estilista, mas lá veio o choque de realidade. Estilista é muito mais para resolver B.O.’s. O mercado é muito injusto e duro. No fim, me apaixonei por ilustração e migrei para o designer têxtil, para desenhar estampas para tecidos”, explica em entrevista à ZIV Gallery.
Os quadros, em tons pastéis, com referências ao mar, ao surf, ao skate e retratando a natureza não são por acaso. Fernanda leva para a arte seus sentimentos quando está surfando, andando de skate e em contato com a natureza.
Há mais de um ano, a designer de 26 anos começou a surfar e cada momento de aprendizado, além de vitória pessoal, se torna uma possibilidade artística. “Surf é como uma meditação, é inspiração, mas também, como todo esporte é empoderador, especialmente para mulheres porque é um desafio ser uma mulher no mar. São poucas e não é fácil. Gosto da ideia de ser e retratar mulheres fortes, desafiadoras e praticantes de esportes, nenhum pouco preocupadas em estar ali para ter um corpo bonito, mas porque faz sentido para elas”, descreve.
“Eu faço uma arte delicada, com tons pastéis, e também fala sobre empoderamento”.
Além da relação com o surf, ela anda de skate e, igualmente, sente a dificuldade de ser uma mulher praticando o esporte. “Surf, skate e outros esportes são lugares em processo de conquista ainda. Às vezes, na força. Muita coisa está sendo conquistado mas tem muito chão pela frente. Tudo isso é background para o meu trabalho artístico na ZIV Gallery”, afirma.
Fernanda Yamamoto: a escrita antes da pintura
Fernanda inspira-se nas experiências junto à natureza para criar suas obras
Antes de um quadro nascer – ou uma pintura em madeira ou parede – Fernanda busca refletir sobre suas experiências na natureza, especialmente no mar, depois escreve sobre os sentimentos, escolhe palavras-chave passíveis de criar elementos visuais e vai construindo a composição artística.
O rascunho começa em softwares de criação de imagens e depois vai para o papel. A designer busca referências, faz pesquisas e começa o processo de pintura, com uma paleta de cores pastéis, menos saturadas.
“Não consigo viver sem escrever”, confidencia. Então, naturalmente, a escrita foi parar no processo de criação artística de Fernanda.
Respiro na vida
Enquanto a moda muitas vezes responde às influências do mercado e às questões comerciais, a arte é um respiro para Fernanda. “Arte representa vida, respiro, fuga, segurança e liberdade ao mesmo tempo”. Sem deixar de ser, em alguns momentos, lugar de confronto, frustração e sofrimento, lembra também.
Na pandemia, começou a refletir sobre a arte como via de expressão, não apenas como questão comercial, como viu na faculdade. “Tenho buscado a linha de artes visuais e expressão, tentado encontrar meu traço, os meus sentimentos a transmitir”, conta.
A artista participou do painel coletivo da ZIV Gallery
No final do ano passado, foi convidada para fazer parte do painel coletivo da ZIV Gallery e aceitou o desafio de trabalhar em um suporte diferente – a parede da galeria. “Fui direto do trabalho para a ZIV, trabalhei o tema da Amazônia, ao lado de artistas incríveis. Fico sempre chocada com os artistas. Trabalhar ao lado de Sapiens, Ilka, Marcela foi um orgulho… admiro todos. Fiquei honrada e o resultado foi inacreditável.”
No dia a dia, a artista busca referências para seu trabalho em Henri Matisse, Beatriz Milhazes, Conrad Roset, além de uma série de ilustradoras botânicas.
Antes de todos esses artistas, Fernanda se inspirou no trabalho das avós Nina e Noemi, costureiras da família. “Desde pequena, gostei de desenhar. Pegava retalhos, sobras de tecidos, rendinhas para fazer roupinhas para as bonecas. Era uma criança caseira. Criava da minha cabeça e cortava no olho as roupas, costurava e inventava historinhas com as bonecas”.
Hoje, com arte e liberdade, trocou a costura por skate, prancha, quadros, madeiras, paredes, computador e passou a criar pinturas sobre a natureza e os desafios femininos, além de fazer estampas para tecidos com o objetivo de iluminar o mundo.
Conheça as obras de Fernanda Yamamoto na ZIV Gallery, galeria de arte no Beco do Batman, cujo propósito é criar oportunidades e gerar transformações com arte!
Galeria de obras de Fernanda Yamamoto:
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Artista digital da ZIV Gallery, Marcela Rodrigues
Van Gogh, Picasso, Monet… a escola proporcionou experiências marcantes à paulistana Marcela Rodrigues, como conhecer museus, grandes pintores e apreciar obras, mas também intrigou a jovem sobre o motivo de não encontrar mulheres artistas, entre os grandes expoentes da arte. Logo ela percebeu: embora as mulheres tenham criado obras fascinantes, seus trabalhos, assim como suas histórias, não receberam o mesmo destaque dos homens da mesma época.
Preocupada com essa indiferença, depois de um longo percurso, da escola à universidade, a artista digital da ZIV Gallery decidiu desenhar mulheres para tirar a expressão do feminino “de caixas” e inspirar mais mulheres a ocupar espaço na arte.
“Em um certo momento resolvi: todos os meus desenhos de formas humanas serão de mulheres, porque todas as formas de representação feminina geralmente são elaboradas por homens e nos colocam em caixas, como se fôssemos padronizadas”, destaca em entrevista à ZIV. “Nós somos muitas em uma só.”
“Meu trabalho traz mulheres delicadas e ao mesmo tempo com expressão de força e atitude, com alguma sensualidade”, detalha a artista. Logo, ela também incorporou elementos da natureza aos trabalhos porque “semear, colher, dar frutos são máximas femininas.”
A arte de brincar sozinha
Marcela era uma desenhista contumaz na infância. Filha única, encontrou no desenho uma brincadeira para fazer sozinha e sem perturbar os pais.
Uma das paixões de Marcela, as mandalas ajudaram a artista a encontrar novos rumos na vida.
A pequena desenhista cresceu, ganhou concurso de ilustração na adolescência e decidiu cursar publicidade para continuar explorando seu lado artístico, mas a realidade mostrou-se muito diferente. Além de não ter mais tempo para desenhar nesse período, trabalhar em agência de publicidade, por quatro anos, foi cansativo e pouco criativo. “Era um ritmo muito louco e apesar de gostar de trabalhar com criação, era muito podada, ficava engessada em meio a contratos e clientes”, conta.
Cansada física e mentalmente, Marcela pediu demissão do trabalho e fez um mergulho intenso e profundo em si mesma, especialmente quando descobriu a arte de desenhar e pintar mandalas. Começou a desenhá-las de forma espontânea, como hobby, foi pesquisando por conta própria seus significados, fazendo e refazendo círculos e camadas infinitas e simétricas, de forma muito intuitiva. Na mesma época, descobriu a meditação e as duas técnicas ajudaram a artista a voltar a desenhar com alma. “A arte é como meditação, precisa de tempo e atenção e é intuitiva como o desenho de mandalas”, explica.
Após as mandalas, passou a acrescentar mensagens e a explorar temas com os quais tem forte conexão, como a natureza. Foi aprofundando-se sozinha em diversas técnicas até sentir a necessidade de desenhar pessoas. Para essa nova etapa, buscou um curso de Anatomia para compreender as bases dos traços humanos.
Cada passo do novo momento, a artista publicava em seu Instagram, sem pretensões, e ia recebendo retorno positivo de amigos, familiares, conhecidos e inclusive das marcas citadas em seus posts.
Mistura de analógico com digital
Mulheres fortes dão o tom das obras de Marcela Rodrigues
Munida de novas técnicas e decidida a retratar pessoas, Marcela sentiu necessidade de voltar-se para a expressão do feminino. Da plataforma analógica – papel, tela e tinta -, a artista passou para o meio digital, onde pode exercer melhor suas perspectivas de perfeição.
Atualmente, mescla com maestria os dois formatos em mulheres fortes, doces e profundas. Começa muitos trabalhos fazendo aquarelas em papel ou tela e depois transpõe para o digital. E quer ir além, para colocar à prova seu perfeccionismo de capricorniana, brinca, especialmente após o trabalho no painel coletivo da ZIV. “A arte é sempre um caminho, não é um ponto de chegada”, filosofa.
O painel da ZIV permitiu à artista elaborar melhor a imperfeição no digital. “Sabe aquele risco não totalmente certinho? A arte está nesse detalhe do momento.”
A paulistana destaca a participação do sócio da ZIV Gallery, Helder Kanamaru, em seu desenvolvimento artístico fazendo questionamentos inquietantes sobre perfeição e quem pode dizer: “isto é perfeito” ou “é imperfeito” e se sentiu acolhida com as novas reflexões.
“A ZIV foi abrindo portas e novas possibilidades. A história do painel foi um desafio importante, porque a maioria da galera pega spray e faz algo maravilhoso sem rascunho. Eu gosto de fazer rascunho antes, medir. Aí vieram Evandro e Keity, me inseriram nesse projeto lindo para o qual tive de subir em andaime para fazer minha parte. Nunca fiz isso na vida e esperei para ver como seria misturar tantos estilos e o painel ficou incrível. Está sendo uma possibilidade de troca e aprendizado muito grande”, conta. Ela desenhou a índia com folhas do mural interno da ZIV.
Para Marcela, a arte é uma forma de comunicação
“Sou perfeccionista, mas estou aberta às propostas da arte e já considero usar o spray em meus trabalhos”, adianta.
Para Marcela, sempre tímida, a arte é uma forma de comunicação. A arte fala por ela. É um modo de expressar-se no mundo sem ter de falar, mas dizendo tudo.
Conheça as obras de Marcela Rodrigues na ZIV Gallery, galeria de arte no Beco do Batman, cujo propósito é criar oportunidades e gerar transformações com arte!
Galeria de obras da artista digital Marcela Rodrigues:
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